folga #7 RECOMEÇO
Este mês, nossa newsletter seria sobre cansaço. Ele ainda está entre nós e uma hora vamos dedicar uma edição só a ele, nosso companheiro de todos os dias. Mas, depois de um segundo turno tenso (mas aliviante), resolvemos falar sobre recomeço. Então, recomeçando o editorial:
Este mês, nossa newsletter é sobre recomeços!
E o que é a maternidade senão um eterno recomeço? Recomeço de relação com nossas próprias mães a cada briga ou sessão de terapia. Recomeço da dúvida - ter filhos ou não ter? Recomeço dos relacionamentos amorosos, que agora não afetam só a gente, afetam também nossas crianças. Recomeços com a gente mesmo porque, né?, nem sempre estamos nos trilhos certos…
Recomeços podem ser um alívio. Mas também podem ser um mundo novo - e difícil - a ser explorado. Mas pode ser tudo ao mesmo tempo agora. E esses recomeços podem chegar de várias formas. Podem ser impositivos: a gente não escolhe, mas precisa encarar, como foi com a Ani. Podem ser recomeços que desejamos, mas que quando chegam deixam a gente um pouco perdida, como conta a Hel. E outros são deflagrados por nós mesmas, como escolheu a Carol.
Depois de meses complicados por dentro e por fora aqui pra nós três, recomeçamos essa FOLGA. Recomecem com a gente!
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Levando conforme o recomeço
Anielle Franco
Nem todo recomeço é levinho, né?
Tem recomeço que planejamos, desejamos e nos preparamos. Mas tem uns que chegam em forma de furacão! PQP!
Eu amo aqueles recomeços gostosinhos que a gente consegue levar de boaça, de forma leve, como se tudo tivesse encaixado. É como recomeçar a ler um livro, assistir uma série, organizar o armário ou planejar uma viagem. Assim é tranquilo, calmo, maroto e gera um certo prazer.
Quando ele vem dessa forma, dá vontade de gritar ao mundo que estamos recomeçando e dando passos que nos enchem de orgulho. Lembro da perfeita sensação de recomeçar quando comecei a estudar algo que realmente me enchia de ânimo. Era uma delícia comprar todos aqueles cadernos fofos, escolher canetas bem coloridas, pensar na roupa do primeiro dia e no quanto isso me fortalecia.
Teve a vez também que me mudei para os EUA e tudo era novidade. Eu tinha apenas 16 anos e estava viajando com uma bolsa de 100% para jogar vôlei, estudar e morar fora por algum tempo. Que puta recomeço. Era a menina favelada que saía da Maré para viver uma vida totalmente nova e desafiadora num lugar nunca jamais imaginado. Assim é lindo recomeçar.
Porém, tem alguns recomeços que chegam como se tudo, absolutamente tudo, estivesse fora do lugar. Aquele que vem do nada, como avalanche e deixa rastros e aprendizados profundos.
O dia que me separei do meu primeiro casamento eu chorava como criança. Ininterruptamente. Demorei semanas pra entender que eu tinha que recomeçar. Despedaçada, triste, ferrada de cabeça, mas precisava!
Quando perdi minha irmã da maneira covarde que foi, achei que seria um recomeço “só” com saudade e vazios. Mas não foi. Foi tudo muito pior. Fui demitida de várias escolas e ainda tive que lidar com ódio, fake news e a traição de pessoas próximas na minha vida. Defino esse período como uma das fases mais difíceis da minha vida. Estava sozinha por um bom tempo, sem saber qual caminho seguir, com medo de tudo e sem confiar em ninguém. Me sentia perdida, gente. Completamente perdida. Contava nos dedos com quem eu podia contar e me abrir.
Fui obrigada a recomeçar de forma valente. Não tinha outra possibilidade. Era isso ou isso!
Recomeço forçado não é pra qualquer pessoa. Exige garra, vontade, coragem, aquela força que vem do ventre, sabedoria e estratégia.
Mas como mantemos tudo isso quando não sabemos o que fazer? Tenso demais! Foi preciso conhecimento e borogodó. Me agarrei no que de fato importava e fazia mais sentido pra mim. Mantive meus valores, minhas crenças e minha ancestralidade pulsando. Aumentei a minha fé e colei com quem eu sabia que me queria bem. Me afastei e neguei coisas que me arrepiavam só em chegar perto.
Recomeçar é decisão!
Tenho certeza que em algum momento você foi obrigada ou escolheu recomeçar.
Pode ter sido fácil ou não.
Mas a verdade é que nós mulheres, mães, incríveis, poderosas, cada uma em sua maneira de ser, sempre damos um jeito.
Sempre nos encontramos, ressignificamos e renascemos.
Seja na dor ou no amor, o universo se encarrega de nos levar para onde devemos estar!
Recomeçar é de novo tentar. Uma, duas, três, ou inúmeras vezes. Não importa. O que importa é o como, onde queremos chegar e o quanto estamos dispostas a tentar e a vencer.
PUBLI
Nossa folgada Anielle Franco está lançando o livro MINHA IRMÃ E EU, pela editora planeta, com introdução da também folgada Carol Pires e apresentação da maravideusa Maju Coutinho. E a quarta capa? Aff! Quem assina é a Taís Araújo - APENAS!
Deslumbres à parte, é um livro super sensível. Uma mistura de diário, memórias e conversas sobre a Marielle Franco, irmã da Ani assassinada brutalmente em 2018 por um vizinho de condomínio do Bolsonaro. PRÉ VENDA AQUI.
Chega de mentiras de negar o meu desejo
Helen Ramos
Chega de mentiras de negar o meu desejo, Xororó and Chitãozinho.
Voltei pra mim, cê sabe o que é bom, onda do mar - só quero, Marina Sena.
Um belo dia resolvi mudar e fazer tudo que eu queria fazer, Rita Lee.
E eu poderia seguir esse texto só citando músicas sobre recomeço e fugir de falar sobre o que toma conta da minha existência agora. Mas, ora ora, adivinha quem tá num momento de recomeço total na vida? Sim gente, moi, eu.
Passei por alguns grandes recomeços na vida: a saída da casa dos meus pais e essa entrada na vida adulta; a morte da minha mãe e ter que aprender a viver sem a pessoa que eu mais amava na vida; também o recomeço de uma vida sendo mãe solo e solteira; o fim de um relacionamento amoroso que deveria se chamar relacionamento espinhoso; o recomeço de ser atriz que envolve muito querer porque o negocio não é fácil; e agora o encerramento de um trabalho que teve muito sucesso mas chegou ao fim. Sim, o podcast com nome de roupa íntima desgastada, com apresentadoras, que eram amigas e pararam de gravar juntas... Mas é isso: os ciclos fecham, e às vezes é bom saber a hora de parar.
E aí cheguei aqui : Novo podcast, deslanchando essa newsletter pro mundo, com projetos de roteiro de curta, de longa, de série, de peça, de monólogos…. Se minha vida fosse um filme, essa sequência seria aquela em que a protagonista tá desolada, mas tentando de tudo. Você se compadece, mas também se irrita com algumas burrices dela. Chega até rir de tão atrapalhada que ela é. Mas dali a dez minutos algo vai te emocionar porque afinal é um filme mamão com açúcar, e as coisas vão dar certo.
Mas a vida real é limão com chuchu mesmo. A protagonista tá sem grana e observa seus amigos que fizeram medicina ou direito e se pergunta por que ela foi escolher ser artista, meu pai do céu? O pior é que, na vida real, essa sequência da protagonista meio embananada pode durar meses, anos, ou mais.
Mas torço que não. O recomeço já começou (música de esperança ao fundo maestro). A democracia não está mais em erosão como eu temia, 2023 já se anuncia, e no meu recomeço pessoa estou determinada a lembrar qual o tom da minha voz e deixar escorrer esse tanto de coisa que eu sou ao mesmo tempo, sem ninguém pra dizer que não sou ou me diminuir. Viva a cultura, viva o seu e o meu recomeço, viva o nosso amanhã. E aceito dicas, carinho e testes para elenco.
E como comecei com música termino com música:
Eu vou deixar ela ir embora, chegou a hora, chegou a hora. O que começa terá seu final. Isso é normal. Isso é normal. A dor do fim vem pra purificar. Recomeçar . Tim Bernardes.
RECOMEÇANDO. MAS SEM SAIR DO LUGAR. Carol Pires
Adoro recomeços. Principalmente os totais, quando me mudo de casa (e de decoração), de guarda-roupa (que é nossa auto-decoração) e até de cidade (que é a radicalização da mudança de decoração da vida). Gosto tanto de recomeços, que muitas vezes já os usei como fuga.
Minha primeira grande mudança foi em 2009, quando fui morar com meu namorado da época. Não sei se o melhor foi morar com o namorado ou simplesmente sair da casa dos meus pais e recomeçar minha rotina sendo independente. O apartamento dele era pequeno, então no mesmo ano nos mudamos para outro maior - um canvas em branco pra eu colorir do zero com tudo que eu sempre tinha sonhado. Passei meses decorando a nova vida até que no dia em que o último quadro que eu tinha comprado chegou pelo correio, o boy me avisou que tinha conseguido a vaga de trabalho que tanto queria em Buenos Aires. Bati o último prego na parede, coloquei o quadro, bati uma foto e comecei a empacotar a casa outra vez. Achei ruim? Pelo contrário. Pareceu um sonho: uma vida novinha de novo.
De lá pra cá, perdi as contas de quantas vezes recomecei. De Buenos Aires, voltei para Brasília e daqui fui morar em Nova York. Voltei para o Brasil para morar em São Paulo e de lá quiquei de volta para Brasília, depois fui pro Rio, e outra vez pra São Paulo. Agora, voltei a Brasília mais uma vez. Aqui é meu posto de reabastecimento, também conhecido como casa de mãe (que por sua vez é traumatizada com a quantidade de livros que ela me ajuda a encaixotar a cada vez que eu "recomeço").
Minha última volta para Brasília foi o maior dos recomeços - falei disso na FOLGA #2. Agora mãe. Agora mãe solo. Agora mãe solo de uma filha atípica. Agora mãe solo de uma filha atípica vivendo em um corpo de 30 e tantos anos que não tem mais tanta energia. Mas o recomeço deu certo e a vida ficou melhor do que antes, porém ainda cansativa. As terapias da Eva são ótimas, porém em descompasso com minha ansiedade. A qualidade do trânsito é ótima, porém inversamente proporcional à qualidade da minha vida social. O último recomeço foi necessário, mas a vida nova começou a virar uma rotina cheia de poréns. Me deu vontade de recomeçar de novo.
Até o mês passado, eu estava doida pra cair fora não só de Brasília, mas do Brasil. No micro a vida até que estava boa. Mas, no macro, eu não iria aguentar mais quatro anos “daquilo”. Pesquisei bolsa de estudos, cursos, possibilidade de emprego. Antes, eu poderia vender tudo num piscar de olhos e recomeçar numa cidade de praia, sei lá. Ou mesmo ir pra um país que não conheço nem falo a língua porque gosto do desconhecido. Mas agora… aff, que preguiça. É muita tranqueira pra guardar, muitos livros empoeirados pra mexer, muita rematrícula pra fazer e muitos dependentes pra carregar (Eva, Loba e plantas, no caso).
A solução foi dar um reset sem sair do lugar. A terapia estagnou? Mudei a terapia. Mudando a terapia, já mudei a rotina e dei fim à gincana do dia a dia. Pondo fim à gincana também consegui ficar menos ansiosa à noite - o que deixou minha filha menos ansiosa também. E aí passamos a brincar mais. E porque brincamos mais, ela dorme mais. E porque ela dorme mais, eu durmo mais. E quando durmo mais, recomeço meus dias mais felizes. E aí…. o recomeço - o verdadeiro recomeço - chegou! O Brasil votou para ser feliz de novo.
O Centrão segue aí, a mineração ilegal também, os filhos do Bolsonaro idem. Mas não teremos mais um presidente que sugere ao cidadão cagar dia sim dia não. Que acha que Carnaval é golden shower. Que espalha mentiras tão estapafúrdias como a de que a vacina contra Covid causa HIV.
Logo logo nosso recomeço divino-maravilhoso vira rotina cheia de poréns, mas já é o bastante pra ter mudado meu ânimo no nível macro, o que fez diminuir ainda mais a minha ansiedade política. E porque a ansiedade diminuiu, gargalhei mais com meus amigos. E essa semana eu já dormi mais - e já voltei a sonhar que o Brasil é outra vez um canvas em branco pra gente começar a colorir do zero.
CONVIDADA DA EDIÇÃO
MATERNIDADE É POLÍTICA
Renata Corrêa
Quando minha filha nasceu, em 2012, uma mulher era presidente do Brasil - a primeira e única mulher que já presidiu o Brasil. Eu olhava aquele pacotinho minúsculo de pouco mais de três quilos - prova da fertilidade da minha juventude e fé inabalável na vida - e tinha esperanças de que o futuro da minha menina teria mais opções que a minha, fosse no mercado de trabalho, na liberdade das relações amorosas, no direito de ir e vir sem medo da violência ou mesmo de ter o direito de abortar
por livre decisão.
Aos dois anos, minha filha assistiu no meu colo quando Dilma foi reeleita, em 2014. Mas, se você é brasileira, sabe que os últimos dez anos foram muito mais de desesperança do que de esperança. Aquela foi uma das eleições mais misóginas da história, em que xingamentos de baixo calão eram dirigidos à presidente, e montagens pornográficas com o seu rosto plotadas em carros. A mesma eleição que deu o segundo mandato para Dilma também elegeu o congresso mais conservador da história até então desde a ditadura militar, e o presidente da câmara Eduardo Cunha (que foi preso alguns anos depois) era um grande defensor do infame "Estatuto do nascituro", que na prática retirava direitos já conquistados pelas mulheres como o aborto legal em caso de estupro, risco de vida da mãe e anomalia incompatível com a vida do feto.
No ano em que minha filha completou quatro anos, Dilma Rousseff sofreu um golpe de estado disfarçado de impeachment. Um dos votos que pedia sua saída do cargo exaltava o torturador Brilhante Ustra. O dono desse voto era Jair Bolsonaro.
Dois anos depois, o país estava muito pior. Em 2018, minha filha tinha apenas sete anos quando me viu chorar a morte da vereadora Marielle Franco, assassinada pela milícia. Ela me ajudou a colocar flores em um memorial e me perguntava o que tinha acontecido com aquela moça bonita. Perguntou por que Marielle tinha sido alvo de tanta brutalidade. Eram perguntas que eu não sabia responder sequer para mim mesma. Foi um dos períodos mais difíceis para ser mãe: ter que explicar para uma criança pequena a extensão do ódio contra as mulheres.
Ao final daquele ano, um misógino declarado, que acreditava que sua filha foi uma fraquejada depois de quatro filhos homens, o mesmo que exaltou o torturador contra a primeira mulher presidente, foi eleito presidente do Brasil.
Maternar nunca esteve descolado da política para mim. A política atravessou meu corpo de gestante, atravessou meu parto, a decisão de amamentar e principalmente a maneira de criar uma menina no fio fino que é caminhar sabendo dos perigos, mas se sabendo merecedora de viver uma vida plena.
Minha filha tem apenas dez anos e provavelmente viveu todos os dias mais perigosos e turbulentos da história do Brasil desde a redemocratização. Não tenho ilusões que no dia 1º de janeiro, com a posse de Lula, a vida de mulheres e meninas vá melhorar imediatamente, mas a queda de um governo de extrema direita com inclinações fascistas é um começo. Ou melhor, um recomeço. E é com essa esperança renovada que vou apresentar mais uma vez o Brasil para a minha menina.
VOCÊ NÃO DEVE TER TEMPO, MAS FICA AÍ A DICA
Dica da Carol: O Território, de Alex Pritz, sobre a ameaça iminente ao território Uru Eu Wau Wau, que parece mais uma ilha de conservação em meio à expansão ruralista em Rondônia. O filme é de chorar pela exuberância sendo destruída. Saí com vontade de pegar em armas para defendê-los. Tem um problema nesta dica: o filme só está em cartaz em poucos cinemas. Mas até o fim do ano quem quiser fazer uma exibição comunitária/escolar pode conseguir os direitos de exibição gratuitos através do e-mail: TheTerritory@picturemotion.com
Dica da Ani: Leiam meu livro, Minha Irmã e Eu, pela editora Planeta. Coloquei muito carinho nele. Espero que gostem.
Dica da Hel: Dois filmes maravilhosos que vi recentemente:
Argentina 1958, disponível na Amazon Prime Video. Candidato argentino a uma vaga ao Oscar 2023, o longa estrelado por Ricardo Darín (que tá perfeito) acompanha os bastidores do julgamento dos comandantes militares da sangrenta ditadura de 1976 a 1983, condenados por um tribunal civil. O filme é um Brasil mega atual.
Carvão, filme brasileiro que está em cartaz nos cinemas, da diretora Carolina Marcowikz, com interpretação foda de Maeve Jinkins e Camila Márdilam. Meu Deus! O filme é sobre um Brasil rural com uma pegada diabólica excelente.
CARTAS DA PAULA
CARTA 1: PROCESSOS
Eu me divorciei há uns 4 ou 5 anos e, como não poderia deixar de ser, foi um baque para mim e meu filho. Precisamos criar um novo jeito de nos relacionar em família - eu, ele e o pai, agora em casas separadas, em uma nova dinâmica. Precisei focar em mim pra poder ter pelo menos uma chance futura de ser uma mãe inteira nessa relação, mas hoje, olhando pra trás, vejo que porque precisei olhar pra mim, não estava 100% presente na relação com meu filho. Talvez por culpa, passei a ser muito permissiva. Subestimei a capacidade do meu filho de se regenerar e continuar crescendo. Se eu, a adulta, ainda não sabia como fazer isso, como ele seria capaz? Passada a pandemia, que foi um caos para todo mundo, achei que estava começando a pisar em terras mais firmes, quando meu filho começou a ir mal na escola. Procuramos ajuda e descobrimos que ele tem QI alto, um super potencial, mas que era pouco estimulado. E de repente, uma ficha caiu! Eu saquei o que precisava ser feito para que ele fosse estimulado: eu estava lá para ele todos os dias, mas acho que não estava realmente presente. Meu recomeço foi um processo e o processo foi necessário. Dira para outras mães que tá tudo bem às vezes estar presente fisicamente, mas estar distante emocionalmente porque também precisamos ficar inteiras para cuidar do outro. (E não subestimemos os pequenos! Eles são mais fortes do que parecem!)
CARTA 2: PERDAS (alerta: gatilho)
Eu costumo ler sobre os perrengues reais da maternidade aqui na Folga, e já estava me preparando para toda dor e delícia de ser mãe em uma sociedade patriarcal quando tive uma perda. Havia um embrião no meu útero, ele crescia, mas sem batimentos.Infelizmente, o plano de criar um filho para mudar o mundo em colapso ainda não deu certo. Tive um aborto retido. Queria tanto ter um filho que o meu corpo negava a sua partida. Precisei fazer uma curetagem, me senti quase uma criminosa durante um dos momentos mais sofridos da minha vida.
Uma despedida forçada de alguém que sequer conheci. Em um novo começo, precisei recalcular a rota com a certeza absoluta de que não controlo nada. Ser mãe é um ato de coragem desde o momento zero. Abrir mão... Ceder um espaço de si para caber um outro alguém. Fui mãe por oito semanas e, desde então, não sou mais a mesma. Admiro demais todas vocês, estamos juntas na trincheira. Ser mãe é uma aposta ousada no amanhã, e nessa jogada escolho sem hesitar o "all in".
RESPOSTA DAS COLUNISTAS:
Paula 1: Cara se tem uma coisa que tá tudo bem é que às vezes a gente precisar ficar ausente com os filhos, seja ausente fisicamente ou emocionalmente. Gostamos de lembrar que somos humana e que temos problemas, dilemas e questões que às vezes nos atropelam e nos deixam aéreas e introspectivas. Diálogo nunca é demais, seja com um bebê de 6 meses, seja com um adolescente. Contar o que você tá sentindo sempre pode ser uma boa opção. E vamos nessa olhando pra nós mesmas com carinho porque se divorciar e ainda passar por uma pandemia não é para as fracas. Boa jornada pra gente, Paula!
Paula 2: Paula, primeiro: sinta nosso abraço! Eu sinto muito mesmo pela sua perda, por esse luto que é tão pouco falado e discutido. Prometemos uma edição futura sobre isso porque a quantidade de cartas que chega sobre isso para gente é enorme. Segundo: não se sinta uma criminosa, você fez o que era preciso ser feito e o tempo cuida de tudo. Conte conosco! Desejamos uma travessia que te fortaleça. Grande beijo.