A vila nossa de cada filho
Rede de apoio: quem além de vocês, mães e pais, faria parte da criação dos seus filhos? Essa é uma das perguntas-chave na hora quando a possibilidade de ter filhos ou não está na mesa.
Rede de apoio na maternidade existe desde que o mundo é mundo. Mas parece que era algo mais naturalizado nas gerações anteriores – não é? A gente sempre ouve falar de como nossas mães e avós foram criadas pelos pais, mas com uma presença muito forte de tias, tios, primas, primos e toda uma comunidade de amigos e vizinhos ponta-firme.
Aí chega a nossa vez e nos vemos vivendo em apartamentos pequenos que nos deixam ouvir o que os vizinhos conversam, apesar de sequer saber o nome deles. Vivemos, muitas vezes, em cidades distantes de onde está nossa família imediata. Montamos uma vida super urbana e híper conectada que facilitou nossa carreira – mas não sempre a maternidade. Porque maternidade precisa de rede de apoio presencial.
Na verdade, precisamos não de uma, mas de várias redes de apoio. Primeiro, de uma rede de apoio técnica. No mínimo, de um obstetra e, depois, de um pediatra, que consigam nos acolher e tirar dúvidas ali no laço do desespero. E se você é privilegiada economicamente, tem mais uma infinidade de ajuda técnica que você pode (se quiser) ter à mão - de fisioterapeuta pélvico a consulta em amamentação passando por curso de pais e aula de dança com o bebê no sling.
Ter uma rede de apoio familiar é outro luxo, mas do tipo luxo-afetivo. E nós aqui na FOLGA entendemos família como aquele núcleo de pessoas que você ama e pode contar pra segurar sua barra e da sua cria - companheirxs, melhores amigos, familiares, vizinhas ou quem mais fizer parte da sua convivência diária e possa te dar um help em casa, com limpeza, com comida, dando uma olhada no bebê pra você dormir ou levando as crianças pra brincarem fora enquanto você tira um tempo em silêncio.
E ainda tem aquela rede de apoio espalhada pela cidade: creche, day care, natação, grupo de pais, parquinho. E, não vamos te iludir, mesmo com todo esse vilarejo à sua volta, maternar é desafiador – mas pode ser muito delicioso se sabemos montar essa rede – que nunca será infalível – mas é primordial pra uma mais saudável, forte e feliz.
arte: Nadia Grapes, disponível no Canvas Pro
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#publi
#SejaRedeDeApoio
Que existem muitas mães cansadas, todo mundo já sabe, certo? Segundo a pesquisa “Mommys e Saúde Mental”, de 2022, 49,1% das mães entrevistadas dizem se sentir em um limbo emocional e, quando questionadas sobre a saúde mental, 62,7% afirma que têm sensação de vazio, sendo os sentimentos de sobrecarga e cansaço os mais mencionados. Por isso, a Boticário lançou a campanha #SejaRedeDeApoio, porque quem ama também precisa de amor.
S.O.S, rede de apoio
por Helen Ramos
Deveria ser lei, deveria vir bordado na fralda do enxoval do bebê, deveria estar escrito nos para-choques dos caminhões: nós mães precisamos de ajuda para criar nossos filhos; nós mães precisamos de rede de apoio.
Para começar a falar de rede de apoio, preciso contar a realidade da minha maternidade e como ela começou. Fui mãe solo aos 26 anos, com o progenitor aparecendo presencialmente só aos 2 anos do meu filho e olhe lá. A minha mãe nunca se tornou avó em vida, só por via das palavras saudosas quando eu solto um "a sua vovó" contando algo dela para meu filho. Minha família mora em Brasília e eu, em São Paulo. Ou seja: sou uma mãe que sobreviveu porque existiu/existe rede de apoio de todos os tipos: amigas jovens não-mães, namorado fazendo cosplay de mãe, irmão com fobia de dar banho e de trocar a fralda do sobrinho, vô que desmaia ao ver sangue, tia-avó super apaixonada pelo bebê e super afiada nas provocações com a mãe, parentes prestativos e pitaqueiros, avós paternos presentes mas caixeiros viajantes do Brasil, babás tão perdidas quanto a mãe, mães de amigas acolhedoras porém melindradas com a minha falta de gratidão (me desculpem eu não sabia nem meu nome) , amigas sendo rede de apoio e decidindo não serem mãe ao me entregarem meu filho no fim do dia. Até morar na casa dos pais de uma amiga com um bebê de 8 meses eu fui, num surto familiar e financeiro em que eu estava com uma mão na frente e outra atrás. Não foi fácil, mas se não tivesse uma rede de apoio teria sido impossível.
Então vou dividir sugestões do ponto de vista dessa persona que vos fala: uma mãe que saí por aí com um alto falante do carro de pamonha (ou mandando mensagem via zap mesmo) dizendo: Hoje é quarta-feira! Quem quiser buscar na escola, dar carona a vaga ta abertaaaam! Se quiser dar jantar tá valendo demais tambéeem.
Vamos lá:
Para quem está sem recursos financeiros para pagar uma babá de forma justa e dentro da lei, as opções são familiares e amigos. São relações de afetos e muitas vezes desafetos, mas o mais importante é serem relações de confiança. Tenho uma rede de apoio familiar que ama incondicionalmente o meu filho, mas posso afirmar que comigo não é bem assim- ou pelo menos não sabem demonstrar. Já me perguntei inúmeras vezes se isso era saudável pra mim, mas é só olhar pro lado e perceber por palavras e atitudes que meu filho a-m-a essa galara, que é a família dele também, e que talvez conseguiram construir com ele algo que não conseguiram comigo, e tudo bem. Tudo bem nada, haja terapia pra falar verdade.
Quando tá comigo eu tento ser a mãe orgânica natural, quando não tá, Deus abençoe. Sim, tô sendo irônica, mas tô falando a verdade. Sua tia-avó possivelmente vai, sim, enfiar um torrone no seu bebê de 2 anos e pedir para ele guardar segredo. Cadeia nela? Não, diálogo, que talvez mude alguma coisa, mas 80% de chance de não mudar nadica e aí te pergunto: você quer ter controle e razão ou quer ajuda? Dos mesmo autores da pergunta: você quer ter razão ou quer ser feliz? Eu quero ajuda e ser feliz, então chegando em casa escovo muito os dentes e espero o high sugar passar.
Pedir apoio é dar algo em troca também. É cuidar do cachorro da amiga, é levar a avó no dentista, é regar a planta da sua vizinha quando ela viaja, é mandar uma coisa gostosa em agradecimento. Vivemos em sociedade e as pessoas esperam trocas genuínas e humanas. Não dá pra deixar o filho dormir duas noites seguidas no amigo da escola e nunca oferecer esse day off para essa mãe do coleguinha de volta, ok?
Neste momento, a escritora desse texto está mandando mensagem pra umas duas mães e um pai da escola pedindo perdão e querendo combinar uma festa do pijama para pagar suas dívidas de rede de apoio, cof cof.
Caso seja na casa das amigas não-mães, a gente agradece muito e é na base da amizade + vinho que a mágica acontece. O mundo dá voltas e sempre você vai poder oferecer algo em troca.
Mas, sério, gente, não espera um burnout também conhecido como piripaque de cansaço chegar, ou não espere estar no hospital tomando um remédio na veia para sua coluna travada para então entender a necessidade de uma rede de apoio. Experiência própria.
E, sim, falando aqui parece que eu tenho uma torcida do Corinthians de gente me ajudando; não tenho não. Mas vira e mexe eu levanto uma sirene de: S.O.S gente tá puxado, me ajudem.
E por sinal: S.O.S gente, tá puxado, me ajudem, câmbio.
ESQUEMÃO
por Carol Pires
Grávida, ouvi de uma amiga: “você precisa arranjar um esquema”. Parecia conselho com segundas intenções, mas era só um conselho de mãe para quase-mãe. E era um conselho ótimo. Só que a época não entendi exatamente o que ela queria dizer com isso.
No esquema dela tinha marido, duas avós disponíveis, cozinheira, babá e creche, além de uma casa grande e um parque maravilhoso na esquina de casa. A babá dormia em casa e acordava cedo com as crianças, que brincavam por duas horas no parquinho pela manhã. Depois, voltavam pra tomar banho, almoçar e ir pra creche durante a tarde. À noite, a babá voltava para dar o jantar e dormir com eles. Enquanto isso, minha amiga estava trabalhando como louca, cheia de viagens e finais de semana sem folga – assim como o marido. E, não preciso dizer, eles eram muito bem pagos em suas profissões para bancar esse esquema.
No terceiro mês de vida da minha filha, sem ter tirado licença maternidade porque sou freelancer, o conselho me bateu: eu precisava de um esquema. Mas minha dupla na maternidade, o pai, estava atolado de trabalho e de crises de ansiedade e com nenhuma avó disponível – pelo menos não com constância. A minha casa até era grande, mas o entorno era o centro de São Paulo. E o parque mais perto ficava a 40 minutos de caminhada. Eu também estava virando semanas de trabalho sem folga, mas sendo bem mal paga. E o esquema que que deu pra ter foi uma babá ganhando menos do que ela merecia.
Mesmo assim, trabalhando de casa, era muito difícil me concentrar com o bebê no cômodo do lado. Não só pelo choro, que te aciona como campainha, mas também porque dá vontade de ficar lá cheirando o cangote da bolinha em vez de escrever sobre a erosão democrática. Então eu lembrei do esquema da minha amiga e pedi que a babá levasse o bebê para passear por algumas horas pelo bairro cheio de fumaça dos ônibus. Eu, definitivamente, precisava de um esquema melhor.
Tive a ideia de pedir pra um amigo pra trabalhar do escritório dele, que era perto da minha casa. Assim, passava algumas horas concentrada em silêncio. Só que eu chegava em casa para render a babá e enfrentar uma noite insone (porque minha filha não conseguia dormir antes de 2 da manhã e já acordava 5:30). A essa altura eu já estava considerando mesmo fazer um outro tipo de esquema para bancar meu esquema dos sonhos.
Ter um esquema, vulgo rede de apoio, é um luxo – afetivo ou financeiro. Minhas amigas em São Paulo também tinham filhos e estavam atrás dos seus próprios esquemas. Sem família por perto, não tinha pra quem eu apelar emocionalmente. E, sem dinheiro, não dá pra ter ajuda profissional num esquema que seja digno pra todo mundo.
Meu esquema, no fim das contas, foi me mudar de cidade e voltar pra casa da minha mãe – o melhor dos esquemas. E, quando me senti forte – e bem paga de novo - montei o esquema que funciona pra mim: terapias na primeira hora da manhã e creche integral, sem babá. Eu encaro a peleja da semana sabendo que vou conseguir descansar e ter um tempo pra mim no final de semana, quando na maioria das vezes o esquema se chama casa da “bobó”. Ahhh, a casa da bobó: vale mais do que babá, cozinheira, creche, terapia, bombeiro e anjo da guarda. Vovó não é esquema, é esquemão.
Então, repasso o conselho pra vocês: tenham um esquema. Qual esquema? Qualquer um dentro da configuração da sua vida, com as pessoas disponíveis no momento, que nem sempre é ideal, mas que te permita trabalhar em paz e descansar profundamente por algumas horas sabendo que a criança está em segurança e bem cuidada. Porque no fim do dia a rede que precisa estar mais forte pra criança é você.
CARTAS DA PAULA
CARTA 1
Eu tenho uma rede de apoio que me cobra caro por isso. Mas não estou falando de dinheiro, estou falando de saúde mental. Toda vez que preciso deixar meu filho com minha mãe, sei que posso ficar tranquila porque ele estará em segurança e amado, mas na volta serei obrigada a ouvir sobre tudo que eu, a mãe, estou fazendo de errado, sobre como o menino é mal educado por mim, como as roupas dele estão encardidas , como ele pegou gripe porque eu alimento ele mal - e não porque crianças pegam gripe. Minha vontade é de nunca mais pedir favores pra ela, mas quando a coisa aperta não tem amiga, nem vizinha que possa me socorrer, só ela mesmo. Então preciso engolir o orgulho. Vivo nesse dilema do que me custa mais: cuidar do meu filho sem ajuda ou receber ajuda a custo de muito julgamento. Abraços, Paula.
Resposta da FOLGA: Querida Paula, a gente até suou o sovaco aqui de nervoso. Mais irritante que conversa passivo-agressiva só barulho de maquita na janela do escritório. No caso da sua mãe, aconselhamos diálogo. Sim, a gente sabe como é difícil ter D.R. com a própria mãe. Ainda mais com mãe que faz chantagem emocional. Mas a verdade é que não existe outra solução. Ela pode até não aceitar sua conversa numa boa num primeiro momento, mas tenha certeza que você vai plantar uma sementinha. E lembre-se das dicas de comunicação não-agressiva. Não diga “mãe, você me faz me sentir mal”. Diga “mãe, quando você diz tal coisa, pode não ser sua intenção, mas eu acabo me sentindo mal por x, y e z”. Afinal, quem sabe mais da dificuldade de ser mãe que as nossas mães?
Talvez você não tenha tempo, mas fica aí a fica
Carol: Workin' Moms na Netflix. Acabou de estreiar a sétima e última temporada da comédia canadense escrita e protagonizada pela maravilhosa Catherine Reitman. Eu acabei perdendo o ritmo nas últimas duas temporadas e não comecei a sétima, mas as primeiras são muito divertidas. Começa com duas melhores amigas, uma publicitária e uma psicóloga, participando de um grupo de mães. E a partir daí acompanhamos elas tentando balancear a vida profissional, afetiva e materna - como todas nós. Maternidade sem romantismo e capaz de rir dos próprios perrengues.
Helen: Estreiou nos cinemas o filme “Rio Doce", dirigido por Fellipe Fernandes. O filme é cinema pernambucano do bom com tudo que a gente gosta: Thiago, um motoboy da periferia, conhece sua meias irmãs de classe média alta, e descobre a identidade do pai, que mal o reconheceu em vida. E aí, minha gente, esse encontro escancara as relações de desigualdade entre essa família que nunca foi família. Adorei demais! Vá ao cinema e valorize a produção nacional. Destaque para a incrível Nash Laila no papel de umas das irmãs e de Okado do Canal, o ator e rapper que faz o papel de Thiago. Dá uma ligada pra sua rede de apoio e vai assistir ;)
Para ver o trailer:
Adorei essa edição!!!