Folga #14 - RECOMEÇAR.
Ia começar essa edição tentando explicar meu sumiço, e a melhor e mais sincera analogia que posso deixar aqui com vocês é : eu morri. Sim, em 2023 eu morri. Morreram hábitos, morreram apegos, morreram sonhos, morreram concepções, morreu tanta coisa dentro de mim que é possível que sim, eu tenha morrido. E agora tô aqui, de volta, ressuscitei e nem Páscoa é ainda.
Quem é vivona sempre aparece, ou melhor: quem sente demais precisa escrever.
E o tema dessa edição é: recomeços.
Sair da zona de conforto, atravessar o medo de iniciar uma nova fase da vida, mudar de carreira, se separar, resolver mudar de cidade, terminar aquela ou aquelas relações ruins, deixar o medo pra trás e enfim iniciar aquele algo que você tanto sempre quis escondido. Recomeçar pode ser também deixar para traz vícios que de alguma forma te davam um lugar seguro, mas nem sempre o seguro é o que te faz bem. Depende muito de qual significante a palavra seguro traz para você. Eu mesma compartilho com você que seguro e apego são palavras que estão reiniciando um novo sentido aqui, e espero muito que dessa vez eu consiga agregar uma certa libertação nesses mais novos significantes.
Um processo de análise muitas vezes envolve uma reavaliação e uma reinvenção do nosso próprio discurso, permitindo que a gente explore novas formas de expressão e significação. O recomeço, nesse contexto, pode ser visto como um momento de reestruturação da linguagem e de construção de novos significantes para representar experiências e sentimentos.
Dia 20 de março se dá o inicio do novo ano astrológico. Não sei se você acredita ou não, na verdade nem eu sei se acredito ou não em astrologia, mas sei que sempre bate o que aconteceu, lá no mapa astral, na previsão, enfim, acho que que acredito sim. Segundo astrólogas desse mundão, quando acontece o ano novo astrológico é a hora de desejar, escrever sua metas, mirar no que importa.
Te convido a escrever aí seus desejos mais intensos, suas vontades mais malucas, sejam essas coisas difíceis ou que você as considere impossíveis, mas cuidado com o que deseja viu? Porque o universo escuta. Aliás não tome cuidado nenhum não, bora viver.
Boa Folga para você. Um beijo, Helen.
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Ano novo astral, pode chegar.
Por Helen Ramos
O ano novo astral é dia 20 de março, quase 3 meses depois do início do ano. Não sei se fiquei mais esotérica com o passar dos anos, não sei se é meu aniversário que acontece dois dias depois de do ano novo astrológico, só sei que eu sinto um remelexo forte na alma quando meu aniversário vai chegando, um misto de concentra, respira e calma com acelera, pisa fundo, freia e vai de olho fechado mesmo. Não vou nem comentar sobre meu inferno astral, risos.
Se em março de 2023 você me dissesse tudo o que iria acontecer comigo no próximo ano era capaz que eu fugisse para marte. Porém, os últimos 365 dias me deram a oportunidade de crescer. Sim a gente cresce nas dificuldades, infelizmente, porque às vezes eu só quero mandar esse crescimento pra pqp!. E não, eu não acredito que quando a gente perde é porque vamos ganhar lá na frente,. Às vezes nós só perdemos mesmo, e não esperar uma grande melhora e uma grande virada-surpresa feliz e saltitante do universo pode ser melhor, mais fiel a realidade. Às vezes por um certo tempo, nós só vamos perder mesmo, e o que acontece com esse vazio, é que pode ser interessante e potente, o que não significa que vai ser gostoso. Como diria Luana Piovani que eu odeio que a amo: “Quer se divertir? Vai pro parque de diversão".
Isso não significa que você não tenha que ter fé, e acreditar no caminho que você escolhe fazer, até porque acho que se a gente não acreditar fica difícil levantar da cama.
Voltei a estudar psicanálise e nossa!, como eu gosto! Tô por aí fazendo aulas de danças experimentais com toda minha cara de pau e falta de alongamento, mas me divertindo, ou só passando vergonha. O problema de dinheiros ainda não foi resolvido, mas ando entendo que isso tem muito a ver com minha atual profissão, a qual estou me despedindo em alguns aspectos.
Eu que ando me vigiando para não me expor tanto tô aqui contando tanta coisa pra vocês, mas pra ser sincera sinto isso aqui diferente. Me parece que escrever é muito diferente do que falar em vídeo. Aqui tem um pouco de poesia, de aumentativos, de dramas, de imaginário. Parece que falar um pouco aqui é um jeito do indizível vir a luz, algo que li no livro: “A Escrita Como Faca E Outros Textos”, da maravilhosa Annie Ernaux.
Escrever é um desejo/tesão/medo enorme que tenho, então não vou largar o osso. Tô fazendo tudo que me aparece sobre escrita: cursos, leituras, rotinas, métodos. Todos esses lugares tem algo em comum que é ensinado: é preciso sentar e mandar brasa, com insistência. E mesmo que você sente por 2 horas e nada saia, isso foi também um processo de criar. Esse momento pode fazer com que você no dia seguinte, sente e descarrilhe todo esse montante que estava em elaboração dentro da sua cabeça. Como por exemplo hoje, que estou aqui com remédio de piolho na cabeça, a meia noite e ainda tenho roupa para estender e louça para lavar. Plantas, se estiverem vivas vou regá-las, e as roupas em cima da cama provavelmente serão jogadas em cima da cadeira mais um dia.
Sim querida pessoa que me lê, tem coisa que não muda (por enquanto?), nem com recomeço lacaniano. Nós mulheres mandando ver no serviço da casa é uma delas.
E vamos de ano novo astral, de recomeços , de grandes passos, de desistências sadias, de mais gentileza com você mesma e de muito amor com quem quer receber e dar em troca.
Continuem aqui no Folga, eu adoro continuar aqui com vocês. E se puderem, seja uma colaboradora. Essa newsletter é 1000% independente.
Feliz ano novo, astral e ano todo <3 !
Hanuman!
Por Nani Escosteguy
Saí de 2023 com um trecho da Simone na cabeça: “Então é Natal / E o que você fez…”.
Cara, o que eu fiz?
Eu não sou uma pessoa de resoluções de ano novo. Quer dizer, eu sempre digo o que vou fazer no ano que está chegando, mas nunca é sério. Nunca anoto, nunca planejo, nunca lembro… Fica solto no ar da comemoração de réveillon.
Mas a Simone ficou muitos dias na minha cabeça.
E o que eu fiz em 2023? Comecei por uma lista. Eu:
Entrei na menopausa com cabeça, ombro, joelho e pé. Aumentei a quantidade de remédios diários, mas também comecei a olhar mais pra mim.
Fiz uma formação em roteiro.
Voltei a fazer terapia. Comecei o desmame do antidepressivo e o tratamento do Transtorno de Ansiedade com CBD e THC. Reencontrei a depressão e a ansiedade e elas me trouxeram a procrastinação.
Viajei sozinha depois de mais de 17 anos. Embora tenha viajado menos do que gostaria.
Fui escolhida para ser madrinha do menino mais sábio, lindo e parceiro.
Mudei de casa. Mudei filho de escola. Formei filho no Fundamental 1.
Trabalhei muito. Mas muito mesmo! Mas também me endividei.
Fui em show de rock e também em roda de samba.
Bebi muito - e me arrependi muito.
Voltei, devagar, a escrever (oi Folga <3).
Reencontrei e reconectei com amigos. Finalizei luto de amizade.
Ri muito e chorei um tanto.
Plantei muito e estou a caminho da fartura da colheita. Eu sei.
Por causa da Simone, consegui ter uma ideia de como 2023 foi transformador. Um ano em que sentia esse momento de arar a terra, colocar sementes, regar… Ainda que sem intenção, essa perspectiva esteve presente o tempo todo.
Eis que 2024 chegou. E o que eu quero colocar nessa lista? Ah Simone… Tantas coisas! Mas para isso, acho que tenho que largar do “deixa a vida me levar” do Zeca Pagodinho e passar o ano com a musa dos Natais.
Enquanto trabalhava entre calor, mar e pernilongos de Ubatuba, comecei a desenhar uma lista do que eu queria responder a essa pergunta no final de 2024.
Quero cuidar do corpo, da mente e do emocional, envelhecer saudável, diminuir os remédios, beber muita água e pouco álcool, ler mais e ver menos tela, pedir menos delivery, largar o tabaco de vez (ô troço difícil)...
Daí que comecei 2024 correndo na esteira todos os dias e querendo me inscrever em alguma corrida de rua de 5km. Porque eu sou assim. 8 ou 80.
Agora vai!
Aí minhas semi-férias (porque quem tem filhos e freelas nunca entra de férias reais) chegaram e o corpo reclamou. Então eu parei de correr. Desisti da corrida de rua. 8 ou 80.
Agora vai! Será?
Enquanto escrevo aqui, lembro que comecei 2023 pedindo mais disciplina pra mim mesmo. Eu não tenho disciplina.
Uma vez, numa aula de yoga, a professora falou de uma figura mitológica hindu que representa disciplina, um deus-macaco chamado Haruman. Claro que, 8 ou 80 que sou, saí correndo para ler tudo o que eu poderia sobre o tal deus. De fato, Hanuman representa inteligência, disciplina, determinação, direcionamento… “Hanuman é aquele que lhe auxiliará a manter-se em foco em suas batalhas do cotidiano”*
Até que o plano da yoga acabou, Hanuman e disciplina viraram fumaça na minha cabeça.
Retomo essa memória do deus-macaco hoje, em tempos de “agora vai”. Se no ano que passou eu alcancei tanto sem intenção nenhuma, imagina do que sou capaz se colocar intenção, disciplina, determinação, manter-me em foco nas batalhas do cotidiano… Hanuman em minha vida!
O réveillon já passou. A galera que faz listas de resoluções e que entra na vibe de renovação, reset de vida, agora vai, já está correndo atrás do seu rolê há 3 meses. Não vou me apegar ao ciclo de todo mundo. Quero colocar na minha cabeça que essas transformações, vontades, propósitos podem começar a qualquer momento.
Abaixo ao “segunda eu começo”. Por que não começar na quinta? Por que não começar no meio de março? Conheço uma pessoa que já disse: “Não deixe nada pra depois”**.
Praticamente uma ode ao impulso, mas também um incentivo para que a gente faça o que precisa ser feito no dia que for, na hora que for, sem procrastinar nada com desculpas externas.
“No mês que vem / Tudo vai melhorar / Só mais alguns anos / E o mundo vai mudar”**
O meu ano muda hoje.
Hanuman!
* https://www.shivanawa.com.br/
** Pitty - música: “Semana que vem”
Cartas da Paula
Dear Paula.
Escrevo aqui do outro lado do mundo, do outro lado mesmo, de Kyoto, Japão.
Sou uma quarentona, mãe de dois meninos de 12 e 14 anos e recém separada. Taí uma coisa que eu não esperava, o dia que meu ex-marido olhou para mim e disse: eu não te amo mais desse jeito que você me ama. Achei que fosse morrer, achei mesmo, de tanta dor no peito e de tanto chorar. Além de dar conta do meu sofrimento longe do meu país, das minhas irmãs, de minha melhor amiga, eu ainda tinha que trabalhar e ser mãe. Deveria existir uma licença separação concordam?
Minha auto estima se estilhaçou, minha vontade de viver só ficou de pé por amor aos meus filhos e porque resolvi rezar, rezar e rezar. Dizem que com o tempo passa, e é verdade, começou a passar. As cerejeiras começaram a ter cor de novo e eu lembrei de como a vida pode ter outras cores, e um casamento não pode ser a principal coisa na vida de uma pessoa.
Não estou 100% bem, meu ex me parece estar ótimo, e eu atualmente estou na fase da raiva.
Acho que talvez eu nunca mais ame alguém, ou seja amada romanticamente. Minha irmã mais nova ri quando eu digo isso e a mais velha diz: é talvez não.
Adoro a newsletter , vocês nem imaginam mas ela me fez muita companhia nesses últimos tempos.
Continuem !
Grande beijo, da Paula de Kyoto.
Hey Paula, sua carta mexeu demais aqui dentro, e resolvi responder ela com minha própria voz:
Sabia que você pode mandar sua carta para gente ? Caso deseje é só escrever sua carta da Paula para o e-maiL: folga.umamaepravc@gmail.com
Manda sua carta, sugestões de tema, amorzinho, fofoca, enfim, o que você achar que for bom.
Para quando você tiver uma folga:
Dica da Helen
Livro : A Escrita Como Outra Faca e Outros Escritos, da autora Annie Ernaux, publicado pela editora Fósforo. tudo que a Anna escreve é bom, isso eu já constatei, mas esse livro traz a tona o processo do desejo da escrita de Annie, é bonito, potente e inspirador.
Filme: Dias Perfeitos, do aclamado diretor Win Wenders. Ai ai folguers, o que dizer a vocês? Vá ao cinema, bem relaxada, não esperando nada. Compre sua pipoca e sua coca zero e aprecie esse filme bonito, silencioso, delicado e com uma interpretação e fotografia de trazerem de volta raios de sol para as nossas vidas. Pode ser tudo isso em casa também, mas veja essa preciosidade.
Dica da Nani
Livro: “A Origem do Mundo: Uma História Cultural da Vagina ou Vulva vs. o Patriarcado”, de Liv Strömquist, Editora Quadrinhos na Cia. Assisti à uma montagem inspirada nesse livro no Sesc Belenzinho e não resisti. A obra é divertida e assustadora. Como nosso corpo, nossa vulva, foi apagada do mundo por eles, claro, o patriarcado. Liv, literalmente, desenha pra todo mundo como a construção do social do sexo feminino foi sendo manipulada na cultura mundial. O livro é foda. E se a peça passar pela sua cidade, é foda também.
Podcast: Bom dia, Obvious Ep #229/ Pessoas felizes traem? com Lucas Charafeddine Bulamah. A gente já adora o Obvious, e esse episódio nem é o mais recente. Mas me foi enviado por uma grande amiga num momento confuso e difícil do meu casamento. A conversa da Marcela Ceribelli (apresentadora) com o psicanalista Lucas foi recheada de eurekas (há quem chame de insights, mas a eureka é muito mais legal). Eu particularmente acho que o título não faz jus à qualidade do papo - que sobre ciúmes, competição, expectativas e papéis de cada um dentro das relações… É muito maravilhoso!